Um
grupo capitalista, que ostenta ligações ao poder político, age
impunemente na Meia Praia. Contra a destruição do Bairro 25 de Abril, os
moradores têm hoje a mesma união que há mais de 30 anos lhes garantiu o
direito a viver em casas dignas. O PCP continua ao seu lado.
No
final de Novembro, em resposta ao deputado do PCP eleito pelo Algarve, a
ministra Assunção Cristas colocou-se ao lado dos interessados em
expulsar da Meia Praia as famílias de pescadores que habitam no Bairro
25 de Abril. Paulo Sá questionara o Governo sobre a falta de obras de
requalificação (em particular, o não asfaltamento das ruas) e o corte de
um caminho centenário (a deixar cerca de um terço da bela baía para uso
exclusivo do Palmares Golf Resort, um empreendimento turístico de luxo).
O
Governo evocou o Plano de Urbanização da Meia Praia, de 2007, e deu
assim toda a cobertura à posição da Câmara Municipal de Lagos, a quem
aquele PUMP foi oferecido... pela empresa Palmares. Ali se
escreveu que «a área actualmente ocupada pelo Bairro SAAL – 25 de Abril,
será renaturalizada, após realojamento da população residente».
A
governante também invocou a Rede Ecológica Nacional, para explicar o
impedimento ao asfaltamento das ruas. Mas não fez qualquer referência
aos diplomas que determinam a utilidade pública dos terrenos,
dão total legitimidade e legalidade à construção do bairro e atribuem à
Câmara Municipal a responsabilidade das infraestruturas.
«A ideologia classista condenou o bairro à exclusão social», comentou, no blogue da concelhia do PCP, José Veloso,
autor do projecto SAAL na Meia Praia. O arquitecto comunista, autor de
contundentes e esclarecedores artigos na imprensa local e regional,
acompanhou a reportagem do Avante! no bairro, na passada sexta-feira, e tem ali estado frequentemente, com outros camaradas.
Ainda
no dia 22 de Outubro houve uma sessão do Partido, no Centro Comunitário
do CASLAS (uma IPSS com forte implantação no concelho), onde foi
mostrado um filme sobre a construção do bairro. O PCP ofereceu à
Associação de Moradores um dossier com a legislação aplicável e
um cartaz, colocado desde Novembro no largo principal. Um comunicado do
Partido sobre este problema está afixado no café, ponto central do
convívio de jovens e de seniores.
Numa breve volta pelas ruas, até ao «muro da vergonha» erguido ilegal e impunemente pela empresa proprietária do resort
vizinho, fomos saudados amistosamente. José Veloso cumprimentou ainda
alguns moradores do grupo inicial de construtores do projecto que
liderou há três décadas e meia.
Contaram-nos
que o actual presidente da Câmara, eleito em 2001 por escassos cem
votos, que muito se esforçou por angariar com promessas de resolução dos
problemas do bairro, há muito tempo não é ali visto. Pelo contrário,
muitos recordam que o PCP nunca deu motivos para nele perderem a
confiança.
História dá ânimo
Começaram
a chamar «índios» aos pescadores que, no início da década de 1970,
vieram de Monte Gordo e assentaram arraiais na Meia Praia. Tinham isco e
marisco na Ria de Alvor, tinham peixe na Baía de Lagos... e tinham a
GNR à perna, a destruir-lhes as barracas cobertas de junco, apanhado nas
dunas. O colmo dava uma aparência de aldeia de índios. Resistentes,
tanto quanto a sobrevivência exigiu, foram conquistando o espaço.
A
revolução de Abril significou, para estes «índios», o direito a terem
ali casa digna. Em Agosto de 1974 foi lançado no País o SAAL (Serviço
Ambulatório de Apoio Local). José Veloso agarrou esse instrumento e
levou a Meia Praia para um processo de participação popular, ainda hoje
referenciado quando se trata de habitação social e que deu fama
internacional a grandes arquitectos. No Bairro 25 de Abril as casas
foram entregues em 1978 a 41 famílias.
Estes
moradores fizeram tudo dentro da lei, trabalharam e pagaram, como lhes
foi exigido. Tiveram apoios do Estado e têm direitos. Herdeiros de uma
história de resistência, os «índios» de hoje estão dispostos a ir à
luta, sabendo que as forças são muito desiguais, mas conscientes também
de que a sua causa é justa.
Palmares quer dizer...
Em
1975 implantou-se um campo de golfe na Quinta de Palmares, até aí a
maior propriedade agrícola da Meia Praia. Em 2006, a empresa foi
comprada pela Onyria, de José Carlos Pinto Coelho, nascida para o negócio no turismo em 1985, na Quinta da Marinha. Cavaco Silva inaugurou aqui um segundo hotel de luxo deste grupo, a 1 de Abril de 2011.
A 11 e 12 de Junho de 2011, a Onyria abriu o Palmares Golf, primeira parte de mais um dos mal afamados PIN (Projectos de Interesse Nacional) de Pinho e Sócrates, e aponta a próxima inauguração para o Verão de 2013 – um hotel de cinco estrelas.
José
Carlos Pinto Coelho é presidente da Confederação do Turismo Português,
em representação da Associação da Hotelaria de Portugal. A 27 de
Setembro do ano passado recebeu do Governo uma medalha de mérito
turístico. A Bloomberg aponta-o como conselheiro económico do actual primeiro-ministro.
Outro agraciado foi Henrique Montelobo, antigo dirigente daquelas duas associações patronais, homem forte da Sonae Turismo por mais de uma década (destacando-se nos empreendimentos de Tróia), antigo director-geral do Turismo e hoje administrador da Onyria.
A Onyria expandiu-se também na saúde, com o SMP – Serviço Médico Permanente, líder nos serviços domiciliários.
Outros Títulos:
Versão para imprimir
Enviar este texto
Topo


Sem comentários:
Enviar um comentário