Lênin – O gênio do proletariado
“Simples como a verdade, no rosto brilhavam e flamejavam
aqueles olhos agudos de combatente infatigável contra as mentiras e os
males da vida”
(Maximo Gorki)
1870 – 10 de abril no calendário antigo, 22 no atual: nasce Vladimir
Ilich Ulianov na pequena cidade de Simbirsk (Ulianovsk) situada a 1.500
Km de S. Petersburgo, então capital do vasto império russo. Sob a
tirania dos Romanov, a Rússia era, autocraticamente, governada pelo czar
(imperador) Alexandre II.
1879 – Freqüentando o Liceu de Simbirsk (1879-1887), Vladimir Ilich
conheceu cedo as obras dos grandes escritores russos: Pushkin, Gogol,
Turgueniev, Tolstoi, Dostoievski, Bielinski, Herzen, Tchernichévski… Os
dois últimos organizaram a primeira sociedade secreta de oposição ao
czarismo: Vontade do Povo.
1887 – Alexandre Ulianov (Sacha), ir-mão de Vladimir, é enforcado, em
março, aos 21 anos, por ter preparado as bombas que não chegaram a
matar o czar. Em agosto, Ilich inicia o curso de Direito na Universidade
de Kazã, sendo expulso, em dezembro, por participar de discussões sobre
aspectos retrógrados do regimento da Universidade. Com sua prisão,
dá-se o seu batismo revolucionário.
1891 – Permitido somente prestar exames, sem direito a freqüentar a
Universidade de S. Petersburgo, Vladimir Ilich Ulianov estudou sozinho
todas as matérias do curso de direito, bacharelando-se com as melhores
notas entre 134 estudantes regulares do curso.
Primeiras ações na clandestinidade
1894 – Clandestinamente, foi impresso seu primeiro livro, Quem são os
“Amigos do Povo” e como lutam contra eles os Social -Democratas, no
qual V. I. Ulianov desenvolveu a tese da aliança do operariado com o
campesinato.
1895 – Ilich consegue aglutinar os diversos círculos marxistas de S.
Petersburgo numa única organização política – União de Luta pela
Libertação da classe operária -, que invadida, foi destruída pela
Okhrana (polícia política secreta czarista). Vladimir é preso juntamente
com outros membros da organização.
1897 – sem julgamento, IIich é condenado a três anos de desterro na
aldeia siberiana de Chuchenskoe, onde, além de se dedicar ao estudo de
várias línguas, escreveu mais de trinta trabalhos importantes,
terminando, inclusive, o Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia. Em
Chuchenskoe, Vladimir se casa com Nadejda Krupskaia (Nádia), professora
que conhecera num círculo de S. Petersburgo, também condenada ao
desterro.
1900 – em janeiro, findo o desterro, Ulianov dirige-se para Ufá. O
POSDR (Partido Operário Social-Democrata Russo), fundado em Minsk, em
1898, por insistência de Ilich na realização de seu I Congresso, aprova a
publicação de um jornal que seria o seu órgão oficial. Vladimir decide
publicá-lo no exterior, devido à truculenta repressão da Okhrana na
Rússia.
Em dezembro, quase inteiramente elaborado por Ulianov, é lançado em
Munique, sul da Alemanha, o primeiro número do Iskra (A Centelha), que
trazia, no cabeçalho, a epígrafe: Da centelha saltará a chama.
1901- A revista Zariá (Aurora), editada pela redação do Iskra,
publica parte do artigo A Questão Agrária e os Críticos de Marx,
assinado por Lênin, pseudônimo derivado de Lena, o grande rio navegável
da Sibéria. Daí em diante, embora ele tenha usado outros pseudônimos, o
mundo passou a conhecer Vladimir Ilich Ulianov como Lênin.
1902/16 – Nos quinze anos que precederam a revolução socialista de
1917, Lênin viveu praticamente fora da Rússia, com exceção de pequeno
período durante a primeira Revolução russa (1905-1907). “Líder puramente
por virtude do intelecto”, como se referiu a ele John Reed, Lênin
causou a todos que o conheceram a indelével impressão de ser portador de
um cérebro muito privilegiado.
1902 - foi publicado, em Stuttgart, o seu livro Que Fazer?
O bolchevismo se organiza em Partido de novo tipo
Em
1903, na cisão do POSDR, durante seu II congresso, concluído em
Londres, surge o “partido de novo tipo”, bolchevique, revolucionário,
liderado por Lênin. “O bolchevismo existe como corrente de pensamento
político e como partido político desde 1903″, ele escreveu, mais tarde,
em Esquerdismo, doença Infantil do Comunismo.
Em agosto de 1914, o imperialismo (especialmente o alemão) deflagrou a
Primeira Guerra Mundial, que causou milhões de mortos e incontáveis
desgraças às massas populares. Conclamando os povos a declararem guerra à
guerra, Lênin redigiu um grande manifesto, propondo a conversão da
guerra imperialista em guerra civil: as armas deveriam voltar-se não
irmão contra irmão, trabalhadores assalariados de um país contra outro,
mas contra os governos burgueses, reacionários e opressores. “O fim das
guerras, a paz entre os povos, o fim das pilhagens e violência – tal é o
nosso ideal”, deixou o líder bolchevique consignado em A Questão da
Paz. ” O desarmamento é o ideal do socialismo”, escreveu em Sobre a
Palavra de Ordem do Desarmamento.
Sem interromper suas atividades político-partidárias, Lênin ministrou
numerosas conferências em várias cidades européias, e escreveu, em
1915/16, uma série de livros e trabalhos: Cadernos Filosóficos,
continuação de Materialismo e Empiriocriticismo de 1908, O Socialismo e
a Guerra, A Revolução Socialista e o Direito das Nações à
Autodeterminação, Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, terminado
no verão de 1916, em Zurique, sua última cidade fora da Rússia.
“Espero, herr Ulianov, que na Rússia o senhor não tenha de trabalhar
quanto aqui” – disse seu locador, despedindo-se; ao que Lênin redargüiu:
– “Creio, herr Kammerer, que em Petrogrado irei ter muito mais
trabalho!”
O Poder para o Proletariado: “Paz, Terra e Pão”!
1917 – Às 23 horas de 3 de abril, Lênin chega à estação Finlândia da
capital pátria. Milhares de trabalhadores agitam bandeiras vermelhas,
saudando-o com entusiásticas aclamações. O Líder discursa: “Camaradas! .
O povo precisa de paz, o povo precisa de pão, o povo precisa de terra.
Eles lhes dão guerra, fome e nada de pão – deixam os proprietários
continuarem controlando a terra… Precisamos lutar pela revolução … Viva a
revolução socialista mundial!” .
“Foi extraordinário”, afirma o escritor N. Sukhanov, que não era
bolchevique. Rodeado pelo povo, Lênin é conduzido à sede do Partido, e,
daí, com Krupskaia, dirige-se à casa da irmã Ana, onde depara, sobre a
cama do quarto que lhes fora preparado, um cartaz: “Proletários de todo o
mundo, uni-vos!”.
Entre a queda do czar (fevereiro/1917) e a tomada do poder pelos
bolcheviques em outubro, a Rússia viveu uma revolução social de baixo
para cima sem precedente na história da humanidade.
Na fria noite de 24 de outubro, saindo de vez da clandestinidade,
Lênin vestiu o velho sobretudo e, enrolando um cachecol no pescoço,
encaminhou-se para o Instituto Smolny, Estado-Maior da revolução, onde
pôs-se a dirigi-la pessoalmente: ordenou à Guarda Vermelha que ocupasse
todas as posições estratégicas da capital. Afinal chegara o momento para
o qual criara o mais eficiente partido revolucionário do mundo.
Na
manhã de 25 de outubro de 1917, com exceção do Palácio de Inverno, sede
do governo provisório, as principais instituições de Petrogrado (S.
Petersburgo) estavam sob o controle da Guarda Vermelha. À noite, o
Palácio de Inverno foi tomado de assalto, vencendo, assim, sem
morticínio, num país que contava cerca de 150 milhões de habitantes, a
Revolução Socialista de outubro, primeira revolução proletária do
planeta.
À tarde de 26 de outubro, ante o II Congresso dos Soviets, reunido no
Smolny, Lênin vê aprovados, por unanimidade, os seus dois primeiros
decretos soviéticos: Sobre a Paz e Sobre a Terra. Este abolia a
propriedade latifundiária da terra sem qualquer indenização,
constituindo-se no ponto de partida de uma nova era para a Rússia. O
Decreto Sobre a Paz estigmatizou a guerra como o maior crime contra a
humanidade.
Elegendo o Conselho de Comissários do Povo, com Lênin a presidi-lo, o
II Congresso dos Soviets de toda a Rússia escolheu, entre outros, para o
Comissariado (Ministério) das Nacionalidades, Stálin; Trostky para o
das Relações Exteriores, encerrando-se seus trabalhos ao som de A
Internacional.
O povo soviético derrotou 14 países capitalistas
1918/23 – no dia 4 de janeiro de 1918, o Pravda publicou um dos
documentos mais notáveis da História Universal, a Declaração dos
Direitos do Povo Trabalhador e Explorado, redigida por Lênin, que
destacava a principal tarefa do poder Soviético: a eliminação da
exploração do homem pelo homem.
Em março, por questões estratégicas, o governo transfere-se para
Moscou, que se torna a capital da nova República, passando Lênin a
residir e trabalhar no Kremilin (cidadela).
Dizendo ser necessário “estrangular a criança bolchevique no berço”,
Winston Churchill anuncia uma “campanha de 14 estados” contra a Rússia
soviética, desencadeando-se, então, de meados de 1918 a meados de 1921,
uma guerra de intervencionistas estrangeiros e contra-revolucionários
(guardas brancos), custando à recém-fundada República milhões de vidas e
incalculável devastação econômica.
O
desempenho de Lênin, durante a guerra civil e intervenção militar
estrangeira, foi excepcional. Sob sua direção, traçavam-se operações
militares, forjando-se nos combates o Exército Vermelho. Possuindo uma
profunda compreensão da psicologia das massas, o líder soviético a todos
cativava: “Tudo para a frente, tudo para a vitória!” era sua palavra de
ordem.
Apesar do enorme trabalho de organização e defesa do Estado, ele
inaugurou a III Internacional (Comintern), em março de 1919. No verão
desse ano, falando a estudantes, finalizou sua conferência “Sobre o
Estado” com as palavras: “E quando no mundo já não houver possibilidade
de explorar… já não acontecer que uns se fartam enquanto outros passam
fome… atiraremos essa máquina para o monte de sucata. Então, não haverá
Estado e não haverá exploração.”
Derrotadas pelo Exército Vermelho todas as forças estrangeiras e
contra-revolucionárias que tentaram sufocar o nascente socialismo na
Rússia, Lênin encheu-se de legítimo orgulho: “Resistimos contra todos.”
E, implantada, em 1921, a NEP (Nova Política econômica), elaborada por
ele, reforçou-se a aliança do operariado com o campesinato,
consolidando-se o Poder Soviético, premissa indispensável de todo o
desenvolvimento posterior da Rússia socialista.
Mas em conseqüência do imenso esforço e trabalho que até então
realizara, passados trinta anos sem descanso, Lênin entrou em profunda
estafa, adoecendo no inverno de 1921. Escreveu a Máximo Gorki:
“Terrivelmente cansado. Insônia. Vou tratar-me.”
Submetendo-se a rigoroso tratamento médico, o líder soviético
melhorou no decorrer de 1922, ditando seus últimos trabalhos no início
de 1923. Suas obras completas estão reunidas em 55 alentados volumes.
Para sempre na luta dos oprimidos
1924 – No dia 21 de janeiro de 1924, após o jantar, Lênin recolheu-se
em seu quarto, na casa de repouso em Gorki, aldeia próxima a Moscou,
onde convalescia. De repente, sua temperatura subiu bruscamente, a
respiração tornou-se difícil, ficou inconsciente, sucumbindo a um
derrame cerebral – eram 18 horas e 50 minutos.
A notícia propagou-se rapidamente pelo mundo. Sun-Yan-Sen finalizou
emocionado discurso fúnebre, ao receber a notícia de sua morte: “Na
memória dos povos oprimidos, tu viverás durante séculos, grande homem!”
O médico e empresário norte-americano, Armand Hammer, que assistiu aos
funerais do líder da primeira revolução socialista vitoriosa da Terra,
escreveu: “Nenhum rei, imperador ou papa recebeu uma derradeira
homenagem como aquela.” Embalsamado, Vladimir Ilich Ulianov encontra-se
na Praça vermelha, centro de Moscou.